Moléculas Poliatómicas
Hibridação sp2: BH3

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O boro (configuração electrónica 2s22p1) tem quatro orbitais de valência e apenas três electrões para as preencher. Assim,  tem capacidade de estabelecer três ligações covalentes «normais» - e uma ligação covalente dativa nos casos em que se liga a elementos com orbitais totalmente preenchidas (os pares de electrões não partilhados).

A molécula de BH3  é uma molécula que apresenta geometria triangular plana em que o boro estabelece três ligações equivalentes com os átomos de hidrogénio.  Na descrição pela teoria de orbitais moleculares do BH3, obtém-se sete orbitais moleculares de valência por combinação linear das orbitais atómicas de valência dos átomos constituintes. Considerando o plano da molécula o plano XY, o critério da sobreposição espacial indica que não é possível combinar a orbital 2pz do B com as orbitais 1s do hidrogénio uma vez que a sua sobreposição é nula. Assim, a orbital de simetria π OM4 do BH3 é uma orbital não ligante, que corresponde à orbital atómica 2pz do B, e as restantes seis orbitais moleculares, de simetria σ, são obtidas por combinação linear das orbitais 2s, 2px e 2py do boro com as orbitais 1s dos hidrogénios como indicado na equação 1. As três orbitais de menor energia estão ocupadas pelos seis electrões de valência da molécula.

ψi= ci1 φ2s (B) + ci2 φ2px (B) + ci3 φ2py (B) + ci4 φ1s H(1) + ci5 φ1sH(2)  + ci6 φ1sH(3)      (eq.1)

A mistura s-p nas OM do BH3 traduz-se, na linguagem do enlace de valência, na hibridação sp2 atribuída ao boro no BH3. As orbitais híbridas de valência do boro que descrevem a ligação neste composto são obtidas misturando duas orbitais 2p com a orbital 2s como indicado na Fig. 1.

Orbitais atómicas "puras"
Orbitais híbridas

ψ1= 1/√3 φ2s + √2/3 φ2px

ψ2= 1/√3 φ2s - 1/√6 φ2px + 1/√2 φ2py

ψ3= 1/√3 φ2s - 1/√6 φ2px - 1/√2 φ2py

Figura 1- Combinação linear das orbitais 2s, 2px e 2py na hibridação sp2.

As três orbitais híbridas sp2 são equivalentes quer em termos energéticos quer de «composição»: as orbitais são degeneradas, com energia Esp2= 1/3 Eφ2s +2/3 Eφ2p e apresentam 33,(3)% de carácter s e 66,(6)% de carácter p. A orbital p que não entrou na hibridação permanece «pura» e está vazia no boro que apresenta assim uma hibridação sp2 no BH3 e uma configuração electrónica: [He] sp21sp21sp21pz0.

A geometria das orbitais sp2  indica que há sobreposição máxima de cada orbital híbrida com apenas a orbital 1s de um dos hidrogénios.  BH3 é então descrito como apresentando três ligações σ resultantes da sobreposição ou enlace topo a topo das orbitais 1s do hidrogénio com as orbitais híbridas sp2

Figura 2 - Orbitais atómicas envolvidas na ligação química na molécula de BH3.

Mais uma vez, verifica-se que a aplicação do modelo do enlace de valência na descrição de uma molécula tem limitações, aparentes quando se compara  a Fig. 2 que sugere que as três orbitais σ são degeneradas e com contornos de isoprobabilidade simétricos em relação ao plano XY, com o que se obtém com a TOM. Na realidade, apenas duas orbitais σ ligantes são degeneradas e os respectivos contornos de isoprobabilidade não são simétricos (Fig. 3) mas as ligações formadas são equivalentes em termos de distâncias internucleares e em termos energéticos como previsto pelo modelo do EV.
orbitais moleculares-BH3
Figura 3 - Diagrama de energia das orbitais moleculares e contornos de isoprobabilidade orbital da molécula de BH3

A orbital pz vazia torna o BH3 muito reactivo (é um ácido de Lewis muito forte) e na fase gasosa esta molécula existe na forma de dímero, com dois hidrogénios em ponte entre os átomos de boro (Fig 4).
Figura 4 - Estrutura do diborano, o dímero do BH3.